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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011


Logo cedo um passarinho bicudo
Virá cantar,
Anunciado como uma sirene de usina
Que a vida daqui
Traz o compasso acelerado
de esteira enfurecida.
Que custa caro ser homem.



Os meus cobertores, um pra cada noite,
                                                              prepararão minhas manhãs.
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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Das grandes cidades

Embora o engenho de pedra e aço
Emprestasse seu movimento às coisas,   
Ainda que tudo estivesse em oferta
E os maquinistas efetuassem as manobras
E o pão fosse fresco e a greve um sucesso,
 Hoje disseram que lá
Pelas bandas da cidade grande
 Até os assentos da rodoviária velha reclamaram de solidão.

Uma estória de esquecimento

Alheio a tudo
Colei-me às pernas de Teresa,
Abdiquei de mapas,
Fiz delas meu curso.
 Teresa, andando
 Parecia meio pardal,
Meio chocalho,
 Uma cortina de conchas raras.
 Sempre anunciava sua chegada
Como os carrinhos de gás.
Calado
Dominava a arte de esconder-se
Em objetos, numa imagem,
Em qualquer coisa que compunha
Seu universo.
No dia em que Teresa alçou vôo,
Descobri que há muito não lia um livro,
Que meu peixe morrera de fome,
Que meus sapatos andavam desgastados,
Que perdi 20 quilos
De gordura e memória.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Oficina de sonhos


Sempre chega a hora de dormir, abrir os olhos do monstro anárquico.
Meus sonhos são como as mães que desembaraçam os cabelos de suas crias.
Confortam-me porque são livres, imprevisíveis como o chiclete nos assentos.
Dentro do silencio desses tempos de século XXI os operários adormecem enquanto pensam:
Oferta                                                                                              geléia
            salário                                                                 usina     
                        patrão                                 açúcar
                                             deserto  
Depois deixam de ser operários, são anjos viciados,
 delinqüentes submersos numa gelatina de estrelas.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A arte de fabricar relógios


Para fabricar um relógio primeiro é preciso estudar o estômago dos gatos,
Que são maquininhas semelhantes ao tempo,
Depois alugar um ateliê numa rua com nome santo,
Café quente, cigarros e a companhia de um ratinho que também saiba de bichanos,
Eles são indispensáveis para a regulagem dos segundos.